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iPad Air – mais fino, mais leve, mais rápido. Um iPad muito melhor, sem dúvida, mas que não vai mudar o mundo, como fizeram Mac OS X, macbooks, iPad, iPods e iPhones.

Na última terça-feira, a Apple introduziu uma nova série de novos produtos em sua linha. Mas apenas “melhor, mais fino e mais leve” não é o que o mundo está acostumado a ver vindo da empresa criada por Steve Jobs. Como um designer que trabalhou junto a Jobs, desde o inicio do projeto “Snow White” entre 1984-1990, uma coisa é clara para mim hohe. Colocando nos termos do famoso discurso de Steve em Stanford, no qual ele aconselhava aos joves “Still Hungry, Still Foolish” (continue faminto, continue tolo), Apple pode ainda estar com fome, mas não é mais tola.

A tradição de design bonito, simples, ainda está vivo na Apple. Mas mesmo o melhor design do mundo não pode esconder que a empresa já está em uma direção estratégica a um orientação ao marketing (em outras palavras, gerir de melhor forma possível os atuais recursos e a atual posição da empresa), sendo assim a Apple não mais tem uma orientação a inovação. O que temos visto da Apple desde da perda de Steve Jobs é que a Apple, em grande parte, pode até estar renovando em estilo, mas tudo isso é apenas refinamento da inovação criada pela Apple de Steve.

O equipamento “estilo livro” criado em 1982 por Jobs e desenvolvido pelo designer Hartmut Esslinger, não pode ser construído com a tecnologia da época, mas se tornou sucesso em diversos equipamentos recentes da Apple.

O principal problema para a Apple é que todos os seus produtos (hardware e software) são agora são produtos extremamente maduros na indústria. Com Sony, Philips e a indústria fonográfica “adormecidas” há 15 anos, a Apple foi capaz de integrar e melhorar exponencialmente a experiência das pessoas a ouvir música digital e comprando títulos on-line: o iPod e iTunes pegou toda indústria de surpresa. Os telefones celulares estavam em um lugar semelhante antes do lançamento do iPhone. E como o iPad, na verdade concebido antes do iPhone, a Apple foi capaz de criar totalmente, dois novos mercados e segmentos de negócios nos anos 2000. Eles ainda possuem uma enorme parcela de todas essas categorias de produtos. Isso em si já é uma conquista histórica.

Inovação profunda leva décadas. Quando Steve e eu trabalhamos no projeto “Snow White” a partir de 1982, decidiu-se projetar o futuro da Apple, sem pensar se poderia ser tecnicamente possível se fazer em cinco, 10, até 20 anos. Queríamos visualizar o futuro distante, e imaginar como as pessoas iriam usar produtos futuristas. Em retrospecto, muito das coisas que a Apple “criou” nos últimos anos – verdadeiramente inovações que mudaram a industria, como iPod, iPhone, iPad é até mesmo o MacBook Air – foram todas idéias que desenvolvemos, de uma forma ou outra, a 30 anos.

Grandes desenvolvimentos tecnológicos são necessários antes dessas idéias tomarem formas (saltos quânticos em armazenamento e processamento, a internet, display coloridos, baterias finas e de maior duração), mas os genes dessas idéias sempre estiveram lá, antes mesmo de ser possível se inventar tudo isso. Na verdade, a única idéia que sonhávamos e que ainda tem que acontecer é a reinvento da televisão – algo que para muitos de nós, esperamos que Apple ainda tem em seu bolso para nos mostrar.

Mas, até agora, não houve nenhum sinal de algo inovador, que novamente mude a industria. A Apple tem que criar uma nova categoria, ou passar para a normalidade – ainda excelente, mas não mais uma empresa que muda a indústria por suas inovações. Os sinais que eu que vejo, indicam que a Apple ainda tem fome, mas é mais tola, no espírito de Steve Jobs.

Como alguém que ama profundamente a Apple, eu odiaria vê-lo desviar-se do caminho, assim como a Sony fez depois de seus dois fundadores visionários, Masaru Ibuka e Akio Morita, deixarem a empresa. Mas com todo o respeito à liderança atual da Apple, eles parecem estar perdendo o espírito radical de viver, pensar e suar para ter “A próxima grande invenção” – como alguém que gosta de fazer negócios de uma forma totalmente não convencional.

Inovação é lenta e requer um envolvimento de longo prazo. A Apple ainda pode nos surpreender em três ou cinco anos, com um grande projeto que está cozinhando, longe de olhares indiscretos. Mas a último dia 22 de outubro, não foi esse dia. Mas como um fã da Apple, continuo mantendo minha “tola esperança” viva.

Sobre o Autor: Esslinger é o fundador da “Frog Design” e terá seu livro “Keep it Simple: Os Primeiros Anos do design Apple”, será publicado pela Arnoldsche Verlagsanstalt em janeiro (sem data ou tradução para o Brasil).

Texto original: http://ideas.time.com/2013/10/22/apple-still-hungry-but-no-longer-foolish/#ixzz2iYfldhNz